Madalena Nunes
Contraditoriamente, o assunto pandemia Covid - 19, tão exaustivamente tratado em todas as mídias, sob todos os pontos de vista possíveis nos últimos seis meses, têm trazido mais perguntas do que respostas. Todos nos perguntamos sobre o momento presente: difícil, incerto, assustadoramente novo. Também pensamos sobre quais seriam as possibilidades de futuro, para os que sobreviverem, nesses tempos de mudanças nos comportamentos sociais.
Chimamanda Adichie, escritora nigeriana, nos incentiva a pensar sobre a necessidade de observar múltiplas possibilidades de desfechos. Ela nos aponta que devemos levar em conta uma pluralidade de narrativas para não cairmos num empobrecimento das experiências. Alerta para a necessidade de nos mantermos abertos à multiplicidade de narrativas, vivencias, lugares de fala. Porque as trocas de experiências podem ser usadas para capacitar, humanizar e trazer de volta a esperança.
Sabendo que nos encontramos submersos num oceano de consumo e marketing, hipnotizados pela mídia, encoleirados eletronicamente pela sociedade de controle, Pasqualino Magnavita sugere que uma forma de resistência seria desatrelar o desejo, transformando-o em criação para não empobrecer a experiência.
E nesse sentido, pergunta-se: o que desejam os corpos no mundo pós pandemia? Esses corpos que estavam habituados ao regramento das horas, do consumo, dos ditames da moda, da etiqueta, das narrativas políticas, dos desejos marcados pelo coletivo. Que mudanças esperam e, mais importante que isso, que podem criar, a partir das suas subjetividades, esses corpos desejosos de contato, de movimento, de trocas? Será que os meses de confinamento forçado efetivamente trarão mudanças de consciência no consumo, no tratar questões pessoais, na convivência social, na relação com o meio ambiente?
Difícil dizer. Tudo ainda é muito recente e incerto. Na solidão de nossos dias tendemos a maximizar pensamentos e desejos de um futuro melhor ou pior, mas na prática, ninguém sabe ainda como tudo será de fato. Nesses poucos e longos meses, que mais parecem décadas, aprendemos a olhar o mundo pela janela de casa, do computador, da TV, privados do contato face a face, do toque das mãos, dos abraços, calores, perfumes. Por um momento, que não se sabe se será definitivo, aprendemos forçadamente a conviver virtualmente e a volta ao novo normal, quando (e para quem) acontecer, na verdade ninguém sabe bem como será.
MAGNAVITA, P. R. Cidade, Cultura, Corpo e Experiência. ReDObRa, v. 10, p. 27-32, 2012.
ADICHIE, C. N. The danger of a single story. 2009. Disponível em: http://www.ted.com/talks/lang/por_br/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html . Acesso em: 04/04/2020.