terça-feira, 14 de julho de 2020

Tempo de incertezas e Mundos Possiveis

Programa de Pós-Graduação dos Estudos  Culturais Contemporâneos da Universidade Federal de    Mato Grosso/ PPG -ECCO/ UFMT.
 Disciplina: Poética contemporânea I
Professora: Drª  Maria Thereza Azevedo

Discente: Ms. Maria de Lourdes Fanaia Castrillon


O possível não mais orienta o pensamento e a ação
   de acordo com alternativas preconcebidas, do   tipo:                                                                             capitalistas trabalhadores; homem ou        mulher;                                  trabalho  ou lazer etc.; trata-se  de um de um possível que ainda precisa ser criado. E esse novo "campo
 de possíveis", que traz consigo  uma nova distribuição de potenciialidades, desloca as oposições binárias expressa novas possibilidades de vida.

                                  Maurizio Lazzarato (2006)


                 
                A proposta desse ensaio  contempla o projeto Mundo Possível  da disciplina  poética contemporânea  I do Programa de Pós Graduação dos Estudos Culturais Contemporâneo da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGECCO/UFMT). Para tanto, o objetivo do texto é abordar   o cenário atual que vivenciamos,  um  tempo de incertezas devido o   fenômeno    global  o Coronavirus  (Sars-Cov-2causador da atual pandemia de    Covid 19[1].  Diante disso pode-se dizer que o surpreendente fenômeno pandêmico  impactou;  o tempo frenético    do homem,   as  transações   econômicas, as viagens  à negócios  ou a lazer ficaram limitadas, e de modo geral os   projetos de vida     foram protelados.   Trata-se de um tempo   em que, convivemos com  problemas estruturais  existentes em períodos anteriores a esse momento como; crises politicas e econômicas, recessão, desempregos, desastres  ambientais, gerando consequências  negativas  sociais,  e  atualmente esses fatores se agravaram  ainda mais,  com a crise sanitária pois enfrentamos  um misto de  instabilidades,  angustias e medos.  O medo é próprio da natureza humana  e pode-se dizer que neste momento  não  é só a  pandemia que causa angustia ou temor mas de modo geral  o desemprego, fome em suma  a sobrevivência .  De todo modo, as mudanças e adequações necessárias  provocadas pela pandemia  da Covid 19   interferem   nas nossas  relações sociais  e estilos de vida,  nos hábitos alimentares, nas relações de trabalho e   nas formas de ser e de  viver do homem. O tempo de incerteza exige não só  enfrentamentos  mas também acentuam sobressaltos e reflexões em especial   as contradições sociais existentes na sociedade brasileira.          
       Com  a  difusão  do vírus  as  nossas relações com a cidade e  com o espaço publico foram alteradas e uma serie de questionamentos sobre  as nossas  relações  com o espaço urbano.    A ausência do convívio social no espaço urbano interferiu nas formas de manifestar desejos  artísticos as  atividades de lazer que até então eram corriqueiras passaram a ser anormais e, embora o isolamento social seja necessário,  a longo prazo esse protocolo não  substitui por exemplo, passeios em  parques  e praças, shows  e festivais artísticos e culturais, viagens entre outros.  Associando o cenário atual   com as ideias de Maurizio Lazzarato, um acontecimento nos faz ver aquilo que uma época tem de intolerável, mas faz também emergir novas possibilidades de vida (LAZZARATO.  P.22. 2006)  pode-se dizer,  que a    crise sanitária  é um acontecimento que provoca  diversas  inquietações e segundo os postulados do autor  articular  possibilidades e  desejos inauguram, por sua vez, um processo de experimentação e de criação.
          Para tanto, pensar num mundo possível, nos provoca reflexões, e   atua em primeiro lugar no nível da alma enquanto transformação incorporal, que modifica a maneira de sentir, as modalidades de afetar ou de ser afetado (LAZZARATO.P 25. 2006) A respeito  dos efeitos do acontecimento pandêmico  observa-se,  através  dos  relatos   colhidos   via celular  o que as pessoas   desejam  ou  anseiam para  um mundo melhor após a crise sanitária ? Entre os  “desejos dos  relatos dos entrevistados  e  usuários desta cidade” estão;  o sistema educacional  especialmente  a indígena, politicas publicas urbanísticas   com  maior  compromisso do  poder publico.
                 O sistema educacional público,  precisa  ser  repensando, novos protocolos   com  estruturas físicas mais adequadas, já que propõe um convívio coletivo,   é pertinente  reelaborar   o cuidado e segurança de todos  no que se refere às melhorias na acessibilidade para higienização, assim como o meio de transporte e a merenda escolar. Além disso, algumas instituições  educacionais  publicas e privadas  da educação básica e do ensino superior  aderiram ao ensino à distancia   na tentativa de suprir lacunas das aulas presenciais. É  certo que, a tecnologia  com  seus aspectos negativos e positivos  já  estava incorporada  no meio social há tempos, através do teletrabalho, teleconferências, Skype, usos intensivos da internet mas, com a necessidade do  distanciamento social    as aulas presenciais  momentaneamente   foram substituídas  pelo trabalho  home office ainda que  não tenha sido de forma democrática diante das desigualdades sociais.  Para tanto, uma  indagação  que ainda deve ser  melhor observada e analisada é;  como se procede  neste momento de pandemia  politicas publicas  para o ensino  escolar nas modalidades indígena e quilombola nos locais mais distantes do espaço urbano? No  atual   contexto conturbado  nossas subjetividades são afetadas,  assistimos  as intolerâncias raciais  e  os movimentos sociais clamando  pelo respeito à diversidade  e  alteridade.  Em um dos relatos colhidos   a entrevistada prioriza a educação de modo especial a  indígena. É pertinente repensar as propostas educacionais  nas modalidades educacionais indígenas  e  quilombola pois as finalidades dos pesquisadores sobre a temática  relações raciais (e me incluo  nessa)   podem ser   invertidas,   pois em vez de irem ao local colher dados, é possível  levar  contribuições que agreguem valores no saber e fazer dos quilombolas.   É possível experimentar alternativas, mas precisam ser efetuadas pois para o autor Maurizio Lazarato (2006),  um acontecimento não traz soluções rápidas, mas produz efeitos, abrem questionamentos  e nos faz indagar.   
                A  politica publica sobre o espaço urbano  também é um aspecto revelado na entrevista , porém,  ao falar sobre a cidade é necessário pensar nos laços de sociabilidades, o estreitamento das relações até mesmo entre arte e vida como disse Maria Theresa Azevedo (2019) mas além disso, é preciso também refletir nas formas de habitação da sociedade brasileira e especialmente desta capital mato-grossense. As desigualdades urbanas da sociedade brasileira,  e de Cuiabá são marcadas pela política de urbanização do final do século XIX  e início do século XX,  pois historicamente  a  segregação do espaço público  constituiu-se pelo  discurso do projeto politico de cidade moderna.  Para a urbanista Ermínia Maricato (2016) as segregações do espaço público acentuam e evidenciam as desigualdades urbanas, proporcionando impactos na saúde e no meio ambiente. Nisia Trindade presidente da Fiocruz aponta que no cenário atual as  condições de moradia, falta  de saneamento básico   torna-se  difícil a implementação dos processos de higienização.  Diante das desigualdades sociais é possível observar que,  enquanto alguns   segmentos sociais  estão  confinados nos  condomínios  arejados  bem ventilados e murados,  outros estão nos  bairros periféricos, nas favelas  dividindo o  pequeno espaço  entre quatro,  cinco ou mais pessoas. Segundo Paula Hori (s/d)   as contradições existentes  na cidade  são inevitáveis pois  a segregação  do espaço publico constitui  de   privilégios e portanto são  investidos   recursos. Contudo é  questionador    pensar   na qualidade de vida do morador citadino nos locais  suscetíveis  a doenças  sem que  a  administração  publica  promova  uma  politica   urbana,    um ambiente  mais  saudável especialmente nos  espaços onde os recursos não chegam, dai a prioridade  pelo tema colhida em um dos relatos. Observa-se  que o  Covid 19  não escolhe classe social, mas a péssima divisão de rendas, as condições precárias de moradias, somando aos problemas sociais, educacionais, físicos  atingem, em maior escala, o segmento social mais carente.   É possível sanar deficiências  a exemplo  o  saneamento básico com mais comprometimento político, econômico e institucional.
           De modo geral,  sem a vacina e sem remédio apropriado  o funcionamento estrutural da cidade  após a crise sanitária deve ser resinificado, a apropriação dos espaços públicos precisam ser revistos uma vez que,   o espaço urbano é um  local de afetos, de conflitos, de negociações, de consumismo  de ideias,  ideais e  de  manifestações artísticas.  
              As incertezas são diversas e provocam questionamentos plurais,  o fenômeno pandêmico trouxe mudanças  positivas e negativas, o confinamento social exige   alguns protocolos higiênicos  essenciais para os cuidados com a saúde,   por outro lado   quantas vidas ceifadas. Acrescenta-se ainda,  a fragilidade do Sistema de Saúde (SUS) mas  por  outro lado, é valido ressaltar  também que  embora  a referida instituição esteja em evidencia   com a crise sanitária,  observa-se  a importância  da mesma   à população com menor renda. Tentamos criar alternativas de vida, vivemos buscando a longevidade procurando modos de viver saudáveis, mas não sabemos o que nos espera, não dominamos mutações de vírus.  
             No momento especialistas  pesquisam sobre a vacina,  mas   ainda  são   caminhos que estão sendo traçados pela ciencia,   são  projeções para um mundo possível.  Contudo,    o vírus precisa ser controlado, mas é importante perceber que o momento nos convida a pensar o que antes era impensável(SABER.Tales.A’b. 2020).   Para finalizar  utilizo as palavras de Fernando Sabino (1956), “depois de tudo três coisas ficaram; a certeza de que estamos sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido  antes de terminar. É preciso fazer da interrupção um caminho novo.”


Referencias

AZEVEDO. Maria Theresa.  Cuiabá, 300 Sombrinhas: Cartografias de Afetos  e Percursos de    Memória.
LAZZARATO. Maurizio.  As revoluções do capitalismo I Maurizio Lazzarato; tradução de 
Leonora Corsini. - Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
MARICATO. Erminia.   Melancolia na Desigualdade UrbanaObservatório das Metrópoles. Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, 2017. Disponível em: https://www.observatoriodasmetropoles.net.br/melancolia-na-desigualdade-urbana-erminia-maricato/ Acesso em 06 de julho de 2020.
HORI, Paula. Práticas  Urbanas  Inovadoras, Insurgentes, Democráticas. XI Colóquio  Quapa Sel – Quadro do  Paisagismo  no Brasil Salvador– Bahia – UFBA. 2016.




[1] É  uma doença causada pelo Coronavírus SARS-CoV-2, que apresenta um quadro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves. In; https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca#o-que-e covid.   Um novo Coronavírus humano, que agora é        chamado síndrome respiratória aguda grave   coronavírus 2 (SARS-CoV-2) (anteriormente     denominado HCoV-19), surgiu em Wuhan, China, no fim de 2019 e agora é responsável por uma pandemia in;  http://www.toledo.ufpr.br/portal/artigos-cientificos-covid 19/. Várias evidências excluem a hipótese de que o Sars-CoV-2 tenha tido uma origem laboratorial. No caso da Sars, sabe-se que o vírus foi transmitido de morcegos para civetas e desses hospedeiros intermediários para o homem, mas para o Sars-CoV-2 essa questão permanece em aberto. Em dezembro de 2019, iniciou-se um surto que atingiu cerca de 50 pessoas na cidade de Wuhan, na China. A maioria dos pacientes tinha sido exposta ao mercado Huanan. Esse mercado comercializava frutos do mar, mas também animais silvestres, frequentemente vendidos vivos ou abatidos no local. Contudo, vários pacientes desse surto inicial não tiveram relação epidemiológica com o mercado, abrindo a possibilidade de que outras fontes de infecção pudessem estar envolvidas.IN;  https://pfarma.com.br/coronavirus/5439-origem-covid19.html





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